O Dia Internacional da Mulher nasceu a partir de movimentos de mulheres operárias nos Estados Unidos e na Europa no início do século 20. Naquela ocasião, as mulheres assumiram a linha de frente para pedir por direitos básicos, igualdade e melhores condições de trabalho. Hoje, elas representam 70% da força de trabalho em serviços de saúde ao redor do mundo, de acordo com dados do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Em 2020, com o início de uma das maiores pandemias que o mundo já enfrentou, as mulheres assumiram a linha de frente do combate, protegendo e servindo suas comunidades na luta contra a Covid-19. Essas profissionais precisam lidar diariamente com o risco de infecção pelo coronavírus, com a utilização de equipamentos de proteção individual que exigem cuidados específicos para evitar contaminações e com o aumento diário da demanda de trabalho e do estresse. Além de estarem inseridas em um ambiente propício a condições de vulnerabilidade físicas e emocionais, a maior parte dessas mulheres vivem a chamada “dupla jornada”. Nayla de Michele é nutricionista na linha de frente do Ambulatório de Gestação de Alto Risco do município de Apucarana – PR. Durante a I Mostra Virtual Brasil, aqui tem SUS, ela apresentou a experiência “Atendimento descentralizado das gestantes de alto risco em Arapongas pela Atenção Materno Infantil do Consórcio Intermunicipal de saúde do vale do Ivaí e região”. Diante do contexto da pandemia, o ambulatório criou estratégias para dar continuidade aos atendimentos de pré-natal das gestantes sem perder a integralidade do cuidado. Dessa forma, a equipe composta por médica obstetra, enfermeira, nutricionista, psicóloga, assistente social e fonoaudióloga decidiu se deslocar duas vezes por semana ao município vizinho de Arapongas – PR, que contava com 50% da demanda de atendimento do hospital, para atendimento presencial às gestantes de alto risco da cidade, uma atitude de proteção e cuidado com essas mulheres. “O cuidado e a proteção da mulher durante a pandemia são de suma importância. No nosso caso, estamos lidando com mais de uma vida a cada mulher que é atendida pelo ambulatório e são gestantes de alto risco que também são grupo de risco para a Covid-19. A maior dificuldade é ‘tentar’ ser forte o tempo todo em meio ao caos. Nós, mulheres da linha de frente, tentamos passar confiança e tranquilidade para as nossas gestantes, tornando esse momento tão especial na vida delas o mais pacífico possível”, conta a nutricionista. Nayla de Michele e a enfermeira Patrícia Tribulato durante o trabalho na linha de frente no ambulatório Nayla conta que sente que a “dupla jornada” é uma das situações que mais impactam no trabalho das mulheres no hospital. “Durante o dia lidamos com as vidas fora de casa e ao chegar do trabalho temos que cuidar das vidas que moram conosco, com todo amor e carinho. Eu sempre brinco com isso quando estou indo embora do trabalho, sempre digo ‘partiu segundo round, partiu brincar de casinha’. Mas somos guerreiras e juntas somos gigantes”, celebra. Priscila Uchoa é gestora de qualidade e trabalha na linha de frente do Hospital da Mulher em São Luís (MA). Durante a I Mostra Virtual Brasil, aqui tem SUS, ela apresentou a experiência “Fluxo emergencial do Hospital da Mulher em São Luís-Ma garantia de segurança nos processos com qualidade em relação aos internados de Covid-19”. Com a chegada do coronavírus ao país, ocorreu a readequação do fluxo do Hospital da Mulher como unidade hospitalar de referência para a doença na cidade de São Luís – MA. Com isso, a unidade recebeu novos equipamentos e mobiliário e as equipes de profissionais passaram por treinamento com especificidades ao manejo da nova patologia. Foram 20 dias de adaptação, pesquisa científica e estudo de fluxo para que fosse viável toda estruturação. Funcionárias conhecendo novos equipamentos e recebendo treinamentos ao se tornar hospital de referência na região Priscila, que trabalha diariamente com cuidados ligados à saúde da mulher, conta que sente que houve uma baixa na procura por tratamentos. “Cuidar da saúde da mulher tem um valor e uma importância muito grande, mas sinto que com a pandemia as mulheres acabaram deixando de buscar o acesso à saúde, precisamos ter um olhar mais sensível para a saúde da mulher nesse momento. A gente se preocupa com o acolhimento da paciente e buscamos ofertar não somente uma consulta, mas o acolhimento de cada uma”, explica. A equipe do Hospital da Mulher de São Luís – MA é formada principalmente por mulheres, a gestora conta que a maior parte delas sofre com a “dupla jornada”, mas não em nenhum momento deixam de oferecer um trabalho excepcional. “É que a mulher não é só profissional de saúde, muitas vezes é a mãe que quer proteger o filho e a esposa que quer proteger o marido. A Covid-19 é uma doença agressiva pelos sintomas e também pelo isolamento, por isso temos uma visão de acolhimento e aconchego que precisam ser transmitidas aos pacientes”, conta. Priscila Uchoa acredita que o cuidado com as mulheres durante a pandemia precisa ser ampliado e ressignificado. “No dia da mulher iremos fazer mimos e presentear as pacientes e funcionárias do hospital, mas, como mulheres na linha de frente de uma pandemia tão agressiva como essa, espero que a cada dia possamos nos fortalecer com esperança e fé. e que possamos conseguir distribuir amor, seja para o profissional ao nosso lado ou para o nosso paciente. Somos mulheres e possuímos uma força gigante, iremos vencer”, disse. (Com informações do Conasems).